Não é preciso falar muito... o ritmo do bossa nova, a voz calma, o balançar que se sente...
Não te deixes enfeitiçar por essa rapariguinha de olho em bico! Sem querer tirar o mérito à rapariga, devo dizer-te que não é única. Já há muito tempo apresentei a pequena Bianca Ryan e hoje trago outros...
O Pequeno Declan Galbraith. Hoje já tem a bonita idade de 17 anos mas quando gravou esta música tinha apenas 7 - Tell me why:
Becky Taylor aos 12 anos... admirável... atentem entre o minuto e quinze segundos e o minuto e trinta segundos...
aos 15 anos cantava assim:
e aos 19... sem palavras 'Lascia ch'io pianga'
Depois de um ano de muito trabalho, já em período de férias, volto a deixar um post para vos dar a conhecer um trabalho que muito me agrada. Chamam-se The Cinematic Orchestra... pesquisem por mais músicas, vão ver que vale a pena
To build a house
Ma Fleur
Sentados, lado a lado, eu e o Brama assistimos ao concerto da Diva Negra... às páginas tantas o meu amigo fechou-me a boca com a mão... meu queixo havia caido perante aquele fenómeno da natureza. Rendi-me à superioridade daquela mulher que, recorrendo apenas a um piano e a um prodigioso aparelho vocal, consegue provocar na assistência as mais inenarráveis sensações...
Deixo aqui o inicio do fim da apatia de todos aqueles que tiveram a coragem e a sorte de se sentarem na aula nagna no passado dia 10 de Maio de 2008...
P.S. Obrigado ao utilizador que colocou este pequeno excerto no YOUTUBE
Após um longo interregno estou de volta ao universo dos Blogs...
Vim para apresentar, a quem não viu, um momento de televisão que me arrepiou... De uma das últimas galas da Operação Triunfo, Maria João (a professora) e a Vânia (a aluna), cantam Beatriz...
Lindooooooooo
Quando duas partes da carne se juntam e permanecem unidas, sorri! Iniciou-se o processo de cicatrização...
Um passo é sempre precedido de outro passo e a ele segue-se outro! Não vale a pena fugir... a terra gira, os dias sucedem-se e nós seguimos em frente...
Passos largos e confiantes, outros mais pequenos e timidos! Da diferença no passo faz-se a variedade da vida...
Com gritos de esperança acreditamos no amanhã! Não temos motivos para não o fazer...
Acima de tudo quando, com a cabeça na temperatura ideal, olhamos para trás e verificamos que caminhámos sempre bem... demos o melhor de nós para chegar ao destino!
Este post é inteiramente dedicado a dois amigos!
À minha querida beijodelua que ouviu recentemente esta música enquanto produziu um dos seus maravilhosos textos...
Ao meu louco amigo Brama que sonha em visitar este país, um dia meu amigo...
O Fim. 04 de Fevereiro de 2006 a 18 de Novembro de 2007*
* Datas do vento… para o viajante narrador as datas sofrem um atraso de uma semana.
The End, em Inglês! A célebre frase que, ao estilo “hollywoodesco”, encerra as clássicas películas que nos habituámos a ver no grande ou pequeno ecrã. Embora alguns, mais arrojados, realizadores tivessem arriscado finais trágicos, a regra, ao estilo das histórias de encantar, era o Happy End. Tudo está bem quando acaba bem!
Longe da tela de cinema ou do encantado ambiente das histórias que se contam às crianças, a vida passada no palco da realidade é diferente, para não dizer antagónica. O fim implica, quase sempre, dor. Nunca fui, fisicamente, apunhalado no peito mas, imagino que a dor provocada seja em tudo semelhante à dor imposta pelo fim de uma vida a dois. Serão dores em planos distintos… certamente! Uma mais física, outra mais espiritual. Refiro-me à essência da sintomatologia: o ardor e a pressão na caixa torácica, que parece pronta a explodir a qualquer momento e, no entanto, está em contracção, a dificuldade em compassar a respiração que se processa com dificuldade, o fluxo sanguíneo começa a não ser oxigenado e chega ao cérebro descompensado, conduzindo à falta de lucidez, as pernas perdem força, os braços estendidos ao longo do corpo anunciam o momento em que caíremos no chão. O momento do impacto da lâmina a rasgar a carne é quase vazio e ausente. O efeito surpresa baralha o cérebro no instante em que os impulsos nervosos comunicam a dor. Mas ela chega em breves momentos, passada que é a perplexidade… gélida, profunda, cortante. O grito é sufocado pela repentina dor e pela falta de ar… falta-nos o ar. As mãos suam mas, curiosamente o corpo está gelado. Tão gelado como o chão que acolhe a nossa queda.
O Caminhante e o Vento – Retalhos de uma vida...
Não recordo todos os pormenores… Lembro-me, vagamente, de caminhar perdido pela estrada da vida. “Mas sentia-me bem com o corpo a descansar”, quando descobri uma rua, estreita e escura, que me pareceu um caminho mais rápido para alcançar um objectivo que eu próprio ainda não havia definido. Este novo caminho parecia sinuoso, difícil e até perigoso. Ao mesmo tempo tinha mistério. Havia algo que me impelia a avançar… Era o vento! Soprou-me ao ouvido e com palavras vazias conquistou-me. Era quente aquele vento. Ao mesmo tempo frio, por vezes gélido. Outras vezes morno e algumas quente… reconfortante, amigo até. A cada passo que avançava sentia-me mais envolvido pelo vento. A rua revelou-se irregular e instável, estreita e escura… cada vez mais escura à medida em que cada passo me afastava do caminho original. Segui em frente, por vontade própria, com o vento como companhia. Aquele vento, mistura de Bora e Suão, que me soprava no pescoço e me mordia a orelha… era tão viciante aquele vento que me acompanhava na caminhada.
A rua continuava estreita e escura, às vezes levemente iluminada, em breves trechos, pela trémula luz dos velhos candeeiros a gás. Nos momentos de luz procurava compreender a forma e a dimensão das sombras e silhuetas que se projectavam nas paredes. Estranhas e bizarras figuras eram-me dadas a conhecer. Se semicerrasse os olhos vislumbrava a beleza de algumas fachadas dos imponentes edifícios de pedra que ladeavam os dois lados da, estreita e escura, rua onde acabei apunhalado. Por vezes o medo invadia-me, a incerteza entranhava-se mas, o fascínio permanecia e seguia em frente ladeado pelo vento.
De tempo a tempo, quando o vento soprava mais frio, perguntava-lhe se a estreita e escura rua em que caminhava continuava segura. Por entre sopros e sorrisos o vento assegurava que todos os meus medos eram VIRTUAIS e não passava disso mesmo… Nestas alturas o vento soprava quente, roçava-me a pele e mordiscava-me a orelha ao mesmo tempo que se aproximava mais um velho candeeiro a gás. Segredava ao meu íntimo “não tenhas medo” e seguia em frente. Foram tantos passos em vão. A um e outro candeeiro a gás, a um e outro sopro quente do vento, seguia-se a escuridão e o sopro gelado que eu tentava ignorar, que eu procurei iluminar e aquecer como o simples tom da minha voz... cantando e oferendando o melhor de mim. Tropeçava, vez após vez, mas seguia em frente. Fui muitas vezes abandonado pelo vento… não soprava quente, não soprava frio, simplesmente não soprava! E o vazio que se gerava na, estreita e escura, rua angustiava-me. Tantas vezes bati no meu próprio peito que acabei por marcá-lo para sempre. As feridas cicatrizavam mas as marcas ficaram... segui em frente. No mais profundo do meu âmago acalentava a esperança de um dia chegar a uma ampla e bem iluminada praça, com o vento por companhia, soprando quente a meu lado e empurrando-me para a frente…
Não alcancei o objectivo! Não fiz o suficiente para merecer alcançá-lo!
Fiquei pelo caminho… apunhalado!
Um dia, das sombras da rua, surgiu mais uma pedrada… VIRTUAL – soprou o vento. Ainda hoje não compreendo como é que o imaginário provoca dores tão reais.
Foi o aviso de que algo maior estava para vir. O vento deixou de soprar. Não soprou durante um dia inteiro. Esperou pela noite e apanhou-me no meio da exaustão. Estava extenuado de pensar nos porquês. Porquê aquele fascínio pelo vento, porquê tanta humilhação, porquê tanto amor lançado ao ar… Sem avisar o vento levantou-se, vindo não sei de que lugar daquela estreita e escura rua. Soprou forte como um turbilhão, gelado como um glaciar e com toda a força levantou no ar a faca que me acertou, em cheio, no peito.
O vento, que sempre troçou de mim, riu-se de me ver no chão. Como cão atropelado lambi, por uma semana inteira, as minhas feridas. O vento cessou… por uma semana. Mas, não estava satisfeito e voltou. Estendeu-me a mão com o seu habitual sorriso, que hoje sei que é de escárnio.
- Levanta-te e segue-me – disse - e com um suposto carinho levantou-me e carregou-me ao colo…breves e fugazes momentos de felicidade. Senti que seria capaz de seguir em frente naquela, estreita e escura, rua… Puro engano!
Havia um requinte de malvadez planeado pelo vento. Segurou-me nos braços para me deixar cair do mais alto que teve forças para me elevar. Aquele vento que acompanhei por tantos passos naquela, estreita e escura, rua e teria acompanhado até nem sei onde.
O embate no chão foi pior que a punhalada… desta vez gritei de dor. Morreu a ilusão que, por trás do sopro gélido, o vento tinha por mim um sentimento bonito que se demonstrava na graça de alguns sopros.
Queria vingança? Acusou-me de lhe ter dado pedradas ao longo de todo o percurso naquela estreita e escura rua...
Ao vento grito bem alto:
- As pedras que te atirei foste tu que me as puseste na mão!
… estupidamente, tenho saudades do vento!
No post anterior dei a conhecer um poema que acho de particular ternura e deliciosamente expressivo. Perguntaram-me o que significa Antínoo. Pois bem, não significa nada. É apenas um nome próprio.
Antínoo foi um jovem amante do Imperador romano Adriano. O amor que uniu os dois foi, na época, encarado com naturalidade. Foi com o catolicismo que se deu início à campanha anti-relações entre pessoas do mesmo sexo. Estas eram encaradas com naturalidade nas civilizações antigas. O cristianismo e em especial o catolicismo começou a apontar a homossexualidade como um dos horrores do paganismo. A Cristandade está na origem do ódio que as "modernas" sociedades em que vivemos nutrem pelos homossexuais. Um Português, poeta, errante, descreveu, com rara beleza, a relação de amor entre dois homens da antiguidade. Foi tão grande o amor de Adriano por Antínoo que, aquando a sua morte aos 20 anos nas águas do Nilo, foi declarado deus por decreto imperial. Fernando Pessoa superou-se... Originalmente escrito em Inglês, a tradução deste poema pertence a Jorge de Sena.
Antínoo (trechos)
Era em Adriano fria a chuva fora
Jaz morto o jovem
No raso leito, e sobre o seu desnudo todo,
Aos olhos de Adriano, cuja cor é medo,
A umbrosa luz do eclipse-morte era difusa
Jaz morto o jovem, e o dia semelhava noite lá fora
A chuva cai como um exausto alarme
Da Natureza em acto de matá-lo.
Memória do que el´ foi não dava já deleite,
Deleite no que el´ foi era morto e indistinto.
Oh mãos que já apertaram as de Adriano quentes,
Cuja frieza agora as sente frias!
Oh cabelo antes preso p´lo penteado justo!
Oh olhos algo inquietantemente ousados!
Oh simples macho corpo feminino
qual o aparentar-se um Deus à humanidade!
Oh lábios cujo abrir vermelho titilava
os sítios da luxúria com tanta arte viva!
Oh dedos que hábeis eram no de não ser dito!
Oh língua que na língua o sangue audaz tornava!
Oh regência total do entronizado cio
Na suspensão dispersa da consciência em fúria!
Estas coisas que não mais serão.
A chuva é silenciosa, e o Imperador descai ao pé do leito.
A sua dor é fúria,
Porque levam os deuses a vida que dão
e a beleza destroem que fizeram viva.
Chora e sabe que as épocas futuras o fitam do âmago do vir a ser;
O seu amor está num palco universal;
Mil olhos não nascidos choram-lhe a miséria.
Antínoo é morto, é morto para sempre,
É morto para sempre, e os amor´s todos gemem.
A própria Vénus, que de Adónis foi amante,
Ao vê-lo então revivo, ora morto de novo,
Empresta renovada a sua antiga mágoa
Para que seja unida à dor de Adriano.
Agora Apolo é triste porque o roubador
Do corpo branco seu ´stá para sempre frio.
Não beijos cuidadosos na mamílea ponta
Sobre o pulsar silente lhe restauram
Sua vida que abra os olhos e a presença sinta
Dela por veias ter o reduto do amor.
Nenhum de seu calor, calor alheio exige.
Agora as suas mãos não mais sob a cabeça
Atadas, dando tudo menos mãos,
Ao projectado corpo mãos imploram.
A chuva cai, e el´ jaz
como alguém que de seu amor ´squeceu todos os gestos
E jaz desperto à espera que regressem quentes.
Suas artes e brincos ora são c´o a Morte.
Humano gelo é este sem calor que o mova;
Estas cinzas de um lume não chama há que acenda.
Que ora será, Adriano, a tua vida fria ?
Quão vale ser senhor dos homens e das coisas ?
Sobre o teu império a ausência dele desce como a noite.
Nem há manhã na esp´rança de um deleite novo;
Ora de amor e beijos viúvas são as tuas noites;
Ora os dias privados de a noite esperar;
Ora os teus lábios não têm fito em gozos,
Dados ao nome só que a Morte casa
À solidão e à mágoa e ao temor
Tuas mãos tacteiam vagas alegria em fuga
Ouvir que a chuva cessa ergue-te a cabeça,
E o teu relance pousa no amorável jovem.
Desnudo el´ jaz no memorado leito;
Por sua própria mão el´ descoberto jaz.
Aí saciar cumpria-lhe teu senso frouxo,
Insaciá-lo, mais saciando-o, irritá-lo
Com nova insaciedade até sangrar teu senso.
Suas boca e mãos os jogos de repôr sabiam
Desejos que seguir te doía a exausta espinha.
Às vezes parecia-te vazio tudo
A cada novo arranco de chupado cio.
Então novos caprichos convocava ainda
À de teus nervos, carne, e tombavas, tremias
Nos teus coxins, o imo sentido aquietado.
...
E de pensar, essa luxúria que é
memória de luxúria revive e toma-Lhe os sentidos p´la mão,
desperta a carne ao toque,
E tudo é outra vez o que era dantes.
No leito o corpo morto se soergue e vive
E vem com el´ deitar-se, junto, muito junto,
E uma invisível mão e rastejante e sábia
A cada uma do corpo entrada da luxúria
Vai murmurar carícias que se esvaem, mas
Se demoram que sangre a derradeira fibra.
Oh doces, cruéis da Párthia fugitivas!
Assim um pouco se ergue, olhando o amante
Que ora não pode amar senão o que se ignora.
Vagamente, mal vendo o que comtempla tanto,
Perpassa os frios lábios pelo corpo todo.
E tão de gelo insensos são os seus lábios que, ai!
Mal à morte lhe sabe o frio do cadáver,
E é qual mortos ou vivos que ambos foram
E amar inda é presença e é motor.
Na dos do outro incúria fria os lábios param
O hálito ausente aí recorda-lhe a seus lábios
Que de pra lá dos deuses uma névoa veio
Entre ele e o jovem. Mas as pontas de seus dedos,
Ainda ociosas perscrutando o corpo, aguardam
Uma reacção da carne ao despertante jeito.
Mas não é compreendida essa de amor pergunta:
É morto o deus que era seu culto o ser beijado!
Levanta a mão pra onde o céu estaria
E pede aos deuses mudos que sua dor lhe saibam.
Que a súplica lhe atendam vossas faces calmas,
Oh poder´s outorgantes! Dá em troca o reino
Nos desertos quietos viverá sequioso,
Nos longes trilhos bárbaros mendigo ou escravo,
Mas a seus braços quente o jovem devolvei!
Renunciai ao espaço que entendeis seu túmulo!
Tomai da terra a graça feminina toda
E num lixo de morte o que restar vertei!
Mas, pelo doce Ganímedes, distinguido
Por Jove acima de Hebe para encher-lhe
A taça nos festins e pra instilar
O amor de amigos que enche o vácuo do outro,
O nó de amplexos femininos resolvei
Em poeira, oh pai dos deuses, mas poupai o jovem
E o alvo corpo e o seu cabelo de oiro!
Ganímedes melhor talvez tu pressentiste
Seria acaso, e por inveja essa beleza
Dos braços de Adriano para os teus roubaste.
Era um gato brincando co´a luxúria,
A de Adriano e a sua própria, às vezes um
E às vezes dois, ora se unindo, ora afastado;
A luxúria largando, ora o àpice adiando;
Ora fitando-a não de frente mas de viés
Ladeando o sexo que semi não espera;
Ora suave empolgado, ora agarrando em fúria,
Ora brinca brincando, agora a sério, ora
Ao lado da luxúria olhando-a, agora espiando
O modo de tomá-la no aparar da sua.
Assim as horas se iam das mãos dadas de ambos,
E das confusas pernas momentos resvalam.
Seus braços folhar mortas, ou cintas de ferro;
Agora os lábios taças, agora o que liba;
Olhos fechados por de mais, de mais fitantes;
Ora o vai-vém frenético operando;
Ora suas artes pluma, ora um chicote.
Viveram esse amor como religião
Oferta a deuses que, em pessoa, aos homens descem.
Às vezes adornado, ou feito enfiar
Meias vestes, então numa nudez de estátua
Imitava algum deus que de homem ser parece
Pela do mármore virtude exacta.
Agora Vénus era, alva dos mar´s saindo:
E agora Apolo ele era, jovem e dourado;
E agora Júpiter julgando em troça
A presença a seus pés do escravizado amante;
Agora agido de rito, por alguém seguido,
Em mistérios que são sempre repostos.
Agora é algo que qualquer ser pode.
Oh, crua negação da coisa que é!
Oh de aurea coma sedução fria de lua!
Fria de mais! De mais! E amor como ela frio!
O amor pelas memórias do amor seu vagueia
Como num labirinto, alegre, louco, triste,
E ora clama o seu nome e lhe pede que venha,
E ora sorrindo está à sua imagem-vinda
Que está no coração quais rostos na penumbra,
Meras luzentes sombras das formas que tinham...
...
Erguer-te-ei uma estátua que será
Prova, para o contínuo das futuras eras,
Do meu amor, tua beleza e do sentido
Que à divindade p´la beleza é dado.
Que a Morte com subtis mãos desnudantes tire
A nosso amor as vestes do império e da vida,
Ainda a dele estátua que só tu inspiras,
As futuras iades, quer queiram, quer não,
Hão-de, qual dote por um deus imposto,
Inevitavelmente herdar.
...
Como o amante que agurada, assim ele ia de
Canto a canto do em dúvida confuso de espírito.
Ora sua esperança um grande intento era
De que o anseio fosse, ora ele cego se
Sentia algures no visto indefinido anseio.
Se o amor conhece a morte, que sentir se ignora.
Se a morte frustra amor, que saber não sabemos.
A dúvida esperava, ou duvidava a esp´rança;
Ora o de sonhar senso ao que sonhava anseio
Escarnecia e congelava em vácuo
De novo os deuses sopram a mortiça brasa.
A tua morte deu-me alta luxúria mais
Um carnal cio em raiva por eternidade.
No meu imperial fado a confiança ponho
Que os altos deuses, por quem César fui,
Não riscarão de vida mais real
Meu voto de que vivas para sempre e sejas
Na deles melhor terra uma carnal presença,
Amável mais, mais amorável não, pois lá
Não coisas impossíveis nossos votos jaçam
Nem corações nos ferem com a mudança e tempo.
Amor, amor, Oh, meu amor! Já és um Deus.
Minha esta ideia, que por voto eu tomo,
Voto não é, mas vista que me é permitida
Pelos grãos deuses, que amor amam e dar podem
A corações mortais, sob a forma de anseios,
De anseios que alvos têm indescobertos,
Uma visão reais coisas para além
De nossa vida em vida aprisionada, nosso sentido no sentido preso
Ai, o que anseio que tu sejas, és tu já.
Pois já o Olimpo o território tu pisaste e és perfeito, sendo tu embora
Pois excesso de ti não precisas vestir
Perfeito para ser, a perfeição que és.
...
Amor, meu amor-deus! Que eu beije, em frios teus
Lábios, teus quentes lábios imortais agora,
Saudando-te beato nos portais da Morte.
Pois que pra deuses são portais da Vida.
...
E aqui, memória ou estátua, ficaremos
O mesmo um só, qual de mãos dadas éramos
Nem as mãos se sentiam por sentir sentir.
Ver-me-ão os homens quando o que és entendam.
Podiam ir-se os deuses, no vasto rodar
Das curvas eras. Só por ti apenas,
Que, um deles, no ido bando houveras ido,
Viriam, qual dormissem, para despertar
...
E se a nossa memória a pó se reduzisse,
Uma divina raça do fim das idades
Nossa unidade dual ressuscitava.
Ainda chovia. Em leves passos veio a noite
Fechando as pálpebras cansadas dos sentidos.
A mesma consciência de eu e de alma
Tornou-se, qual paisagem vaga em chuva, vaga.
O Imperador imóvel jaz, e tanto que
Semiesqueceu onde ora jaz, ou de onde vem
A dor que era inda sal nos lábios seus.
Algo distante fora tudo: um manuscrito
Que se enrolou. E o que sentira a fímbria era
Que halo é em torno à lua quando a noite chora.
A cabeça pousava sobre os braços, estes
No baixo leito, alheios a senti-lo, estavam.
Os seus olhos fechados cria abertos, vendo
O nu chão negro, frio, triste, sem sentido.
Doer-lhe o respirar tudo era que sabia.
Do tombante negrume o vento ergueu-se
E tombou; lá no pátio ecoou uma voz;
E o Imperador dormia...
Os deuses vieram....
E algo levaram, qual não senso sabe,
Em braços de poder e de repouso invisos.
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